A vacina BCG e ajuda na prevenção do COVID-19?

Em abril de 2020 a OMS publicou um documento onde demonstrava que não existem evidencias clínicas de que a BCG oferece proteção contra a COVID-19. Por enquanto não há motivos para a indicação da vacina BCG fora do que já está previsto nos calendários brasileiros.
vacina BCG, que protege contra a tuberculose, é obrigatória para os brasileiros desde 1976. Assim como no Brasil, vários outros países também consideram a dose essencial nos primeiros anos de vida. É por isso que aquela marquinha no braço é tão famosa! No entanto, recentemente, um estudo norte-americano encontrou uma possível ligação entre a obrigatoriedade da vacina e a pandemia de coronavírus. Os pesquisadores estudaram o avanço e a mortalidade do coronavírus entre 9 e 24 de março em 178 países e observaram que as nações que apresentam um programa universal de vacinação, incluindo a vacina BCG, têm até 10 vezes menos casos e mortes por Covid-19 a cada milhão de habitantes, como é o caso da Coréia do Sul e do Japão. Por outro lado, em países como os Estados Unidos, Itália e Espanha, que tiveram um número elevado de casos e mortes por Covid, a vacina não é obrigatória.
Dessa forma, a “pergunta que não quer calar” é: a BCG poderia ser usada para proteger contra o vírus? Um estudo publicado na revista Nature no último dia 27 de abril revela que vários mecanismos pelos quais a vacina é capaz de fornecer proteção contra infecções respiratórias têm sido objeto de investigação. “Primeiro, a similaridade molecular entre antígenos BCG e antígenos virais pode levar, após a vacinação com BCG, a uma população de células B e T de memória que reconhecem tanto o BCG quanto os patógenos respiratórios. Finalmente, o BCG pode levar à ativação e à reprogramação a longo prazo das células imunes inatas. Esse último mecanismo, que tem sido motivo de muito interesse na última década, tem sido chamado de imunidade treinada 5”, explica a publicação.
Desde então, os cientistas estão tentando testar a hipótese de que a proteção gerada pelo BCG poderia servir também para doenças graves da Covid-19. “Primeiro, os ensaios clínicos na Austrália, na Holanda e nos EUA visam testar se a vacinação com BCG dos profissionais de saúde pode protegê-los do coronavírus. Segundo, estão em andamento estudos para testar o efeito da vacinação com BCG na prevenção da infecção grave por Covid-19 entre idosos. Finalmente, um estudo na Alemanha está testando se o VPM1002, uma cepa de vacina recombinante derivada da BCG, pode proteger os profissionais de saúde ou pacientes mais velhos da Covid-19”, explica o artigo. No entanto, mesmo que as pesquisas mostrem um efeito protetor, muitas questões permanecerão, aponta a revista. “Primeiro, quanto tempo dura a imunidade gerada pela BCG após a vacinação? Segundo, qual é o momento ideal para vacinar?”, questiona.

O QUE DIZ A OMS?

A Organização Mundial da Saúde (OMS) esclarece, em seu site, que “não há evidências de que a vacina BCG proteja as pessoas contra a infecção da Covid-19. Dois ensaios clínicos que abordam essa questão estão em andamento e a OMS avaliará as evidências quando disponíveis. Na ausência de evidências, a OMS não recomenda a vacinação com BCG para a prevenção da Covid-19. A OMS continua recomendando a vacinação neonatal contra BCG em países ou locais com alta incidência de tuberculose”.
Quanto ao fato de que os países que adotaram a vacinação como obrigatória tiveram um menor número de mortes por Covid, a OMS lembra que fatores como “diferenças na demografia nacional e na carga de doenças, taxas de teste para infecções por vírus COVID-19 e o estágio da pandemia em cada país” também deve ser levados em conta.

O QUE DIZEM OS ESPECIALISTAS?

No Brasil, consultamos o pediatra Marco Aurélio Sáfadi, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP). No entanto, assim como a Organização Mundial da Saúde, o especialista acredita que é muito cedo para conclusões positivas. “Este estudo foi publicado em março e não tem muita consistência. Não acho que podemos levar adiante esta hipótese, sem que tenhamos mais evidências. Não me parece provável. Acho uma análise muito frágil. Muitas variáveis com poder de confusão nos resultados”, afirmou o pediatra.
 
 
Fonte: Revista Crescer