Na rede pública, o Ministério da Saúde informa que a campanha nacional destinada aos mais vulneráveis deve começar na segunda quinzena de abril.
Geralmente, as vacinas contra o influenza são disponibilizadas no Brasil entre abril e maio para proteção em junho, período em que o vírus da gripe começa a circular com mais força. Os vírus utilizados para a confecção da vacina são atualizados anualmente e, esse ano, a vacina brasileira ganhou essa nova forma do H3N2 que ajudou a provocar a epidemia mais grave registrada nos EUA nos últimos 13 anos.
No hemisfério norte, a vacina acabou por não ser atualizada em tempo e, por isso, o vírus acabou fazendo mais vítimas, explica o infectologista e pediatra Renato Kfouri. “Normalmente, há um pareamento entre o vírus circulante e a vacina, mas isso acabou não acontecendo no hemisfério norte e houve um aumento expressivo no número de casos”, diz Kfouri.
“Por aqui, a vacina brasileira já vai conter a forma do vírus que circulou no hemisfério norte, mas ainda precisamos ver se vai haver esse pareamento entre a vacina e a forma circulante”, explica o especialista.
O médico detalha que os vírus influenza conseguem sofrer pequenas mutações que, embora não tão diferentes do ponto de vista morfológico, são suficientes para “enganar” o sistema imunológico e provocar infecções mais graves.
“Essa forma que circulou nos EUA foi mais virulenta, o que significa dizer que foi mais agressiva que as demais”, aponta Kfouri.
O H3N2 já fez 10 vítimas no Brasil em 2018 — não há confirmação, no entanto, se os óbitos ocorreram por essa forma circulante nos Estados Unidos. Segundo o Ministério da Saúde, o país registrou 228 casos de influenza e 28 óbitos. Do total, 57 casos e 10 óbitos foram por H3N2. Em relação ao vírus H1N1, foram registrados 84 casos e 8 óbitos.
Ainda foram registrados 50 casos e 6 óbitos foram por influenza B. A pasta informa que os outros 37 casos e 4 óbitos foram provocados por influenza A sem subtipo definido. Em 2017 (ano todo), foram registrados 2.691 casos e 498 óbitos por influenza.
Vacina da gripe no Brasil em 2018
Na rede privada, laboratórios já estão oferecendo a vacina com os novos vírus recomendados para essa temporada.
Em laboratórios do Grupo Dasa, que administra redes no Brasil inteiro, as vacinas tri e tetravalente estão sendo oferecidas a um preço que varia entre 90 e 160 reais. Em farmácias em São Paulo, a vacina trivalente é oferecida a um preço médio de R$ 130.
A Agência Nacional de Saúde Suplementar informa que os planos de saúde não estão obrigados a oferecer e cobrir a vacina contra a gripe. Segundo a ANS, todo o programa de imunizações fica a cargo do Ministério da Saúde.
Já o Ministério da Saúde informa que a campanha nacional contra o vírus será definida nos próximos dias, mas deve ocorrer ainda esse mês. A vacina é oferecida gratuitamente pelo governo para pessoas que podem desenvolver reações mais graves ao vírus.
- Crianças de 6 meses a 5 anos de idade;
- Gestantes; puérperas, isto é, mães que deram à luz há menos de 45 dias;
- Idosos;
- Profissionais de saúde, professores da rede pública ou privada, portadores de doenças crônicas, povos indígenas e pessoas privadas de liberdade.
Como o imunizante consegue induzir o sistema imunológico com um vírus morto, não há risco de reações graves e a vacina é indicada para pessoas com problemas de imunidade, diz Kfouri. Ele explica que, embora a vacina na campanha nacional seja destinada aos mais vulneráveis, a indicação é que todos que puderem procurem o imunizante.
Vírus definidos pela OMS
Todos os anos, a Organização Mundial de Saúde define quais tipos de vírus as vacinas contra a gripe devem conter a partir dos vírus mais circulantes no ano anterior. No hemisfério Sul, ficou definido que a vacina trivalente (com três vírus) deve conter:
– um vírus similar ao vírus influenza A/Michigan/45/2015 (H1N1)pdm09;
– um vírus similar ao vírus influenza A/Singapore/INFIMH-16-0019/2016 (H3N2);
– um vírus similar ao vírus influenza B/Phuket/3073/2013.
Já as vacinas quadrivalentes, podem conter também o influenza B da forma Brisbane/60/2008.
“Há uns 9 anos mais ou menos, não era comum ter a circulação simultânea de dois tipos de influenza B. Essa situação mudou e, por isso, começaram a surgir as vacinas com quatro subtipos do vírus”, diz Kfouri.
Entenda os tipos de influenza e mutações
O infectologista Renato Kfouri explica que o vírus influenza é dividido em tipos, subtipos e linhagens. Todas essas variações correspondem a diferenças encontradas no material genético do vírus.
Primeiro, em relação ao tipo, o influenza é dividido em A, B e C. O vírus A e B são os que infectam seres humanos; já o tipo C, não é incluído em vacinas e não tem relevância para a saúde pública até o momento.
Já essas formas H3N2, H1N1, dentre outras, referem-se aos subtipos do influenza A. As letras H e N referem-se a proteínas encontradas na superfície do vírus, respectivamente, neuraminidase e hemaglutinina.
Os números, por sua vez, são referentes a maneira como essa proteína é apresentada, como uma haste mais longa, por exemplo.
Já o influenza B é dividido em duas linhagens, que passaram a circular simultaneamente nos últimos anos.