Após 3 mortes por H1N1 em Goiás, população dorme na porta de clínicas particulares em busca de vacina

Centenas de pessoas passaram a noite de terça-feira (3) e a madrugada desta quarta-feira (4) fazendo filas em clínicas particulares de Goiânia para se vacinarem contra a gripe H1N1. A procura pela imunização aumentou depois que três mortes pelo vírus foram confirmadas no estado só este ano. A campanha do Ministério da Saúde foi adiada em uma semana e só vai começar em 23 de abril. De acordo com o governo federal, houve problemas na entrega das doses.

Na porta de uma clínica no Setor Aeroporto, pacientes se organizaram e fizeram, por conta própria, uma lista de chegada. A relação começou a ser feita às 19h de terça-feira. Às 6h desta quarta-feira já haviam 185 pessoas, antes mesmo do local ser aberto. A concentração de pacientes se repetiu em outras três clínicas da capital.

“Cheguei 20h ontem. Vim aqui e eles me informaram que a vacina ia chegar no aeroporto ao meio dia. Eu vim às 3h da manhã com a minha filha, e agora eles falaram que só vão vacinar quem estava na fila. Eu saí da fila não aguento ficar fila de 3h até agora”, disse uma paciente que estava em uma clínica no Setor Marista.

O avanço no registro de casos e a morte de um pediatra da rede municipal por suspeita da doença levou a população a procurar clínicas de vacinação. Até a segunda-feira (2), quando o último boletim da Secretaria Estadual de Saúde (SES) foi divulgado, 44 casos de H1N1 já haviam sido registrados este ano em Goiás.

A Influenza A é dividida em dois tipos, de acordo com o vírus que a provoca: H1N1 e H3N2. As últimas mortes por H1N1 ocorreram em 2016. Também existe a Influenza B. De acordo com a gerente da Vigilância Epimilógica, Magna Maria de Carvalho, só na última semana foram registrados 14 casos graves de influenza A.

Uma representante de uma das clínicas que fica no Setor Marista disse que os pacientes que estão indo ao local a procura de doses de outras vacinas estão sendo atendidos.

“A população não está entendendo que a gente não tem vacina. Eles querem ficar aqui no portão. Está complicado, a gente não tem vacina”, disse.

Grupo passou a noite na porta de clínica no Setor Marista, em Goiânia, Goiás (Foto: TV Anhanguera/Reprodução)

Grupo passou a noite na porta de clínica no Setor Marista, em Goiânia, Goiás (Foto: TV Anhanguera/Reprodução)

Comitê apura casos

Para combater o avanço das doenças, o governo do estado criou um comitê que vai debater sobre ações e levantar o que ainda é necessário ser feito. Uma das primeiras ações foi a reserva de 30 leitos de hospital para casos graves das influenzas.

A notificação da doença não é compulsória desde 2012 e, por isso, não são compiladas todas as ocorrências. “A secretaria está preocupada, é um aumento significativo, mas é sazonal”, afirmou a gestora. “Goiás não vive epidemia, o número de casos está crescendo, mas estamos em alerta para epidemia.”

A SES-GO destaca que a vacinação é importante todos os anos porque os vírus sofrem mutações e, a cada nova dose, a vacina protege contra um novo tipo.

O órgão lembra que os grupos prioritários na imunização são: crianças com mais de 6 meses e menos de 5 anos, gestantes, puérperes (mulheres que deram à luz há 40 dias ou menos), servidores da saúde, professores, adolescentes e jovens cumprindo medidas socioeducativas, presos, servidores do sistema prisional idosos e pessoas com doenças crônicas.

Filas para se vacinar contra a gripe H1N1 em clinica particular de Goiânia, Goiás (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

Filas para se vacinar contra a gripe H1N1 em clinica particular de Goiânia, Goiás (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

Casos registrados

O boletim mais recente, divulgado na segunda-feira (2), registrou 50 casos de Influenza, sendo 44 diagnósticos de H1N1, cinco por H3N2 e um de Influenza B. O documento aponta ainda para 235 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag), que podem ter várias causas, entre elas as gripes, registrando aumento de 16% em uma semana.

“Por enquanto o que predomina é H1N1. Pode ter circulação de H3N2 também, pode ter vindo do hemisfério norte. Dentro da síndrome, a maior preocupação é com a influenza porque, historicamente, ela tem mais potencial de epidemia”, afirmou.

Magna destaca que a vacina fornecida pela rede pública de saúde protege contra H1N1, H3N2 e Influenza B, que são os tipos com maior número de ocorrências no momento. A gerente avaliou que a época em que ocorreu o aumento sazonal neste ano foi diferente se comparado aos anos anteriores.

“O aumento de casos geralmente ocorre em março, abril e maio. Esse ano o aumento veio em fevereiro. Começou antes do esperado. Geralmente nessa época de outono essas doenças tem alta, mas não era esperado que fosse maior que o ano passado”, avaliou.

A enfermeira Katiane Karla de Melo, de 35 anos, conta que ficou seis dias internada na UTI de um hospital em Goiânia com suspeita de gripe H1N1. Ela disse que atendeu uma paciente com sintomas da doença e acredita que se contagiou nesse momento.

Das três mortes confirmadas, duas são de pacientes da Vila São Cottolengo em Trindade, na Região Metropolitana de Goiânia. Houve surto da doença no local e outros 10 pessoas que viviam no local morreram, mas as causas estão ainda sob investigação.

Vacina contra a gripe H1N1 está em falta na maioria das clínicas da capital. (Foto: Divulgação)

Vacina contra a gripe H1N1 está em falta na maioria das clínicas da capital. (Foto: Divulgação)

Sintomas

O médico infectologista Boaventura Bras explica que os principais sintomas da gripe H1N1 são os mesmos de um estado gripal comum, como febre que dura entre 3 e 5 dias, tosse seca, secreção e dores no corpo. A forma mais eficaz de evitar a transmissão do vírus é a higienização das mãos, principalmente com álcool gel.

Caso a pessoa tenha algum sintoma da doença, ela pode procurar qualquer unidade de saúde e, lá, será dado o encaminhamento adequado a ela, de acordo com a gravidade da doença.

Quem pode se vacinar?

Podem se vacinar bebês a partir de 6 meses de idade. A vacina é contraindicada apenas para aqueles que têm alergia a ovo, segundo o médico infectologista.

Os grupos prioritários são grávidas em qualquer período da gestação, crianças entre 6 meses e 5 anos e idosos acima de 65 anos. Também têm recomendação de vacinação portadores do vírus HIV, com problemas cardíacos, diabéticos, com insuficiência renal e doenças respiratórias crônicas.

Quem já teve H1N1 pode contrair a doença de novo?

“Pessoas que já tiveram comprovadamente a gripe H1N1 têm uma resistência maior ao vírus, então seria mais difícil contrair novamente. Porém, o vírus sofreu modificações e ele também pode ser infectado por outros vírus dentro da influenza”, explicou o médico.

Além disso, familiares de pacientes com o vírus também precisam tomar cuidados especiais. “Os parentes também precisam tomar o mesmo medicamento, mas em uma dose menor, mas tudo com orientação médica”, completou.

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